sexta-feira, 20 de março de 2015

sonho



O SONHO DO NIXI PAE
MAHKU - Movimento dos Artistas Huni Kuin 


O Movimento dos Artistas Huni Kuin – MAHKU, consiste num coletivo de artistas huni kuin que estão interessados em pesquisar as linguagens tradicionais desse povo, tais como a musicalidade dos cantos e os desenhos, bem como em fazer leituras novas, com tinta, tela, mural e audiovisual desses saberes antigos.
O MAHKU teve como origem o trabalho de pesquisa de cantos de Ibã Huni Kuin (Isaias Sales). Esse trabalho de pesquisa teve início com as práticas tradicionais de aprendizagem e intensificou-se no período em que Ibã concluía o ensino médio, período em que coletou e organizou o livro Nixi Pae – O espírito da floresta (2006). O livro recolhe os huni meka, cantos do nixi pae (ayahuasca) de três txanas (cantores) huni kuin das Terras Indígenas do Jordão.
Esse livro teve grande impacto nas Terras indígenas Huni Kuin, promovendo uma retomada dos cantos que vinham perdendo espaço nas sessões de ayahuasca para os hinos, cantos cristãos em língua portuguesa. A retomada dos cantos impulsionada pelo livro nessa última década acompanhou uma intensificação no uso do idioma, das pinturas e da própria ayahuasca, conforme relata Ibã no filme O sonho do Nixi pae (2015).
Em 2009, com a chegada de Ibã na Licenciatura Indígena, debatíamos os desdobramentos de suas atividades de pesquisa. Foi quando ele me apresentou os desenhos de Bane Huni Kuin (Cleber Sales) a partir dos cantos huni meka. Cada desenho era uma tradução, que Ibã decifrava numa poética que pela primeira vez se abria com clareza para mim. Na mesma hora peguei a câmera e começamos a registrar sua leitura dos cantos. Fizemos uma série de vídeos experimentais que tiveram aceitação imediata entre os huni kuin. Assim, demos início ao projeto de pesquisa O Espírito da Floresta, na UFAC – Floresta.
Elaboramos dois projetos, ambos aprovados em 2010. Em 2011 realizamos o I Encontro de Artistas Desenhistas Huni Kuin na Terra Indígena Kaxinawa do rio Jordão (http://nixi-pae6.blogspot.com.br/). O outro projeto consistia no registro audiovisual das atividades desse grupo de artistas. Com os desenhos produzidos no Encontro fizemos a I Exposição O Espírito da Floresta – Desenhando os Cantos do Nixi Pae (http://nixi-pae7.blogspot.com.br/), em agosto de 2011 em Rio Branco.
Nesse período criamos o nosso site na internet (http://nixi-pae.blogspot.com.br), que possibilitou a divulgação mais ampla de nossas pesquisas e atividades artísticas. E foi através do site que a Fundação Cartier para a Arte Contemporânea teve um primeiro contato com nosso trabalho e nos convidou para participar da exposição Histoires de Voir, em 2012, em Paris.
Para a exposição da Fundação Cartier realizamos nosso primeiro vídeo, O Espírito da Floresta (https://www.youtube.com/watch?v=zRlbRpoi0cQ), apresentando o trabalho de pesquisa de cantos huni meka de Ibã e do grupo de artistas e as origens do MAHKU.
A exposição na Fundação Cartier impulsionou o grupo a dar continuidade no trabalho de produção de desenhos e explorar outros meios como pintura, assim como nos incentivou na institucionalização do grupo na forma de associação. Em agosto de 2012 nos reunimos e definimos os objetivos do coletivo que passa a ser denominado MAHKU – Movimento dos Artistas Huni Kuin.
Exposições
Em seguida, veio uma série de exposições que tem aberto o universo das artes aos jovens artistas huni kuin. Essa saída dos jovens huni kuin das aldeias para as exposições tem sido alvo de debates no grupo. Desde o início, uma de nossas preocupações tem sido o foco no trabalho artístico, visando preservar-se do mercado do neoxamanismo que assedia constantemente os artistas e cantores huni kuin. Outra preocupação articulada a essa, é o impacto de nossas atividades no modo de vida dos artistas. Nosso objetivo desde o início é proporcionar a produção artística e a geração de renda nas próprias aldeias, sem estimular o deslocamento dos jovens huni kuin de suas aldeias.
Destacamos de nossas experiências em exposições a participação no MIRA, Artes visuais contemporâneas dos povos indígenas, que reuniu em 2013, em Belo Horizonte, além de artistas indígenas brasileiros, artistas e pesquisadores de outros países como Peru, Bolívia, Equador e Colômbia. Foi a primeira experiência do grupo falando em nome do MAHKU, apresentando suas atividades e seus objetivos.
Outro momento importante para o MAHKU foi a exposição Histórias Mestiças, no Instituto Tomie Ohtake, em 2014. Foram expostos 15 desenhos de cantos huni meka de autoria de Isaka Huni Kuin e Ibã Huni Kuin.
Nesse mesmo ano realizamos um trabalho muito importante na trajetória do MAHKU. O convite para a participação na exposição Feito por brasileiros partiu da artista belga Naziha Mestaoui, que vem acompanhando e trabalhando com o MAHKU desde 2012. Associado à sua instalação Sounds of Light, que consiste na projeção de ondas de água que vibram ao som dos cantos huni meka na voz de Ibã, os artistas do MAHKU realizaram mais de 150 m² de murais com temas de cantos huni meka nas paredes do antigo Hospital Matarazzo.

Audiovisual
Todo esse percurso está registrado no filme O sonho do Nixi Pae, de 2015. Desde o início a associação de imagem e som proporcionada pelo audiovisual nos pareceu fundamental para que o grupo refletisse sobre o trabalho. É também uma maneira de apresentar o trabalho do grupo e faze-lo circular nos meios que nos dispõe a internet.
Nossas primeiras experiências com audiovisual foram os vídeo-cantos (https://www.youtube.com/watch?v=pIo90b2qGDI), experimentações que refletem sobre a tradução. Na sobreposição de cantos huni meka e desenhos, os vídeos propõem um diálogo entre a linguagem musical minimalista dos cantos e suas vocalizações e os recursos de que dispõem as imagens no papel ou tela.
No vídeo O Espírito da Floresta (https://www.youtube.com/watch?v=zRlbRpoi0cQ), de 2012, Ibã apresenta sua pesquisa e o projeto com os artistas huni kuin, tudo entremeado com os cantos huni meka.
As atividades de audiovisual do MAHKU resultam de um trabalho articulado entre o Projeto de pesquisa Espírito da Floresta (UFAC – Floresta) e o LABI – Laboratório de Imagem e Som da UFAC – Floresta.

Um comentário:

  1. Haux Huax! Gostaria muito de ler o livro Nixipae, o espirito da floresta. Sabem me dizer onde posso encontrá-lo? Ou seria possível disponibilizar o pdf? Muita gratidão e reverências aos txais e txanás que zelam por esta tradição maravilhosa!

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